terça-feira, 28 de agosto de 2007



O sopro que me acompanha
No início, diz a narração genesíaca,
Pairava sobre as águas
O sopro que me acompanha

Na minha idade pueril
O cantar do vento era uma ensurdecedora
Polifonia, que soprava no centro da
Nesónica porção de terra.
Terá sido a fúria de Éolo?
Se o sopro era do filho do Poseidon, não sei.
Lapidar é o rótulo com que o poeta nos deixou
“Somos os flagelados do vento Leste”.

O sopro que vira o curso do herói de Ítaca
E faz tremular as fundações do mundo,
Não me convenceram.
Uma vez abraçado ao escândalo da cruz
Fui-me apercebendo de um outro sopro.
O profeta no alto do monte, não esperava ver
Na brisa suave, a presença do Altíssimo.
Eis o sopro que me acompanha.

Quando a sinfonia do pneuma da natureza
Se faz ouvir na minha janela e com a
Sua suavidade acaricia a minha face
Maculada de prantos perdidos,
Não posso deixar de ser gentleman
E vir até à linha do sinérgico horizonte
Onde o altíssimo a todos se revela.
Na partida e na permanência do Uno e Trino
Ficam-me a certeza de um destino quadripartido
Que culmina num bafejar pelos quatro cantos do universo
E o regresso ... um dia. Não do juiz mas do redentor,
de um sopro sempre adélfico

A razão pede-me bom senso no estrebuchar das emoções;
A esperança aconselha-me desafiar o tempo
E a manter-me de pé até que a boa nova do
Novo sopro me venha aconchegar.
Então, o holístico, o fenomenológico e o real
E o fideísta se abraçam na certeza do esperado.

"Os sonhos são como o vento,
Sentimo-los, mas não sabemos de onde
Vêm nem para onde vão” – sentencia Augusto Cury.
O sopro que me acompanha
Vem da Essência e para lá caminha.
É a Essência

A natureza inala e exala. Bafeja.
No novo regresso viaja o pólen que
Ao ritmo do sopro vai cumprindo
A tarefa da renovação do ciclo da vida.
Eis a minha relação (de um certo dinamismo)
Com o sopro que me acompanha ao ritmo do
Dramatismo especulativo, que é a própria
Existência humana.
O sopro que me acompanha
Aconselha-me que o Cordeiro está imolado.
Tal faz de mim justo. Apenas me é pedido
Que seja estulto para o mundo
E creia no sopro do amor.
Nem na aventura do crer estou sozinho
Nada tenho que não recebi, ensina-me
O Apostolum ad gentes

Um comentário:

Joaninha disse...

Há muito que não és um flagelado do vento Leste. E o que em ti pode ainda estar contido nesse rótulo tem mesmo que ver com a varinha de condão genesíaca que te recebeu ao nasceres. Porque como Ulisses sulcas os mares e sabes como é Ítaca que importa - e não tem que ser a da origem: acima de tudo, é a da chegada...
Na aventura de crer não estás sozinho - nem na de deixar que as emoções se expandam. Porque és uno e indivisível - apesar de seres tantas coisas... Quem te quer bem sabe disso.
Um grande abraço desta tua amiga - que tanto fia a amizade,`sentada à beira do Mondego,
Joana