terça-feira, 29 de julho de 2008

A felicidade e práxis humana (Ética a Nicómaco).


É sobejamente conhecida dos estudiosos de Aristóteles a íntima relação que o Estagirita estabelece entre a felicidade e a acção humana no primeiro capítulo da Ética a Nicómaco. Aí a felicidade é concebida como sendo o bem supremo que pode ser obtido através da acção. Ser feliz é agir bem. Daí a estreita relação entre a felicidade e a actividade da alma dentro do quadro de uma excelência completa.




Á custa de um hercúlio esforço e de um labor académico notável, o Professor António de Castro Caeiro (UNL) presta um serviço memorável aos leitores do português trazendo ao convívio dos mesmos a primeria tradução portuguesa a partir do original grego de um dos mais importantes legados escritos de Aristóteles - Ética a Nicómaco. Nas palavras do tradutor da obra em causa, é "dificil exagerar a influência de Aristóteles na cultura ocidental". Tal é um facto incontestável que se torna muito claro, por exemplo, quando se lança o olhar para o universo académico, intelectual, cinetífico-cultural da ocidente medieval. Aristóteles é para alguns "o Filósofo" e é, em muitas temáticas, a bateria apontada contra o paradigma neo-platónico-augustiniano; Aristóteles é o ponto da discórdia no âmbito da exegese e da hermenêutica nas universidades que então davam os primeiros passos, mantém um peso considerável na chmada via moderna, muito idnetificada com o nominalismo e surge, de certa forma, como o mal amado da Reforma luterana ... e por aí fora. Portanto, o discípulo de Platão, tutor de Alexandre, o Grande e o fundador do Liceu tem vindo a marcar uma presença assídua nos grandes momentos da culutura ocidental.




A forma como ela aborada a relação entre a felicidade e a acção humana não deixa de ser ser pertinente para abrir horizontes de reflexão. As passagens citadas foram extraídas da referida tradução de António Caeiro, edição revista e melhorada, Quetzal Editores, 2006.



A felicidade como dimensão teleológica da acção humana.


“Quanto ao nome desse bem, parece haver acordo entre a maioria dos homens. Tanto a maioria como os mais sofisticados dizem ser a felicidade, porque supõem que ser feliz é o mesmo que viver bem e passar bem”. Ética a Nicómaco I, IV 1095a 14.

“Para uns é alguma daquelas coisas óbvias e manifestamente boas, como o prazer, a riqueza ou a honra; para uns é uma coisa, para outros outra – muitas vezes até para o mesmo podem ser coisas diferentes. Para quem está doente é a saúde; para quem é pobre, a riqueza. Tendo consciência da sua própria ignorância, muitos dizem ser coisa de monta, muito acima das suas capacidades, e que eles admiram. Alguns pensam ainda ser algo de bom em si próprio que vai para além de muitas coisas boas, mas que é o fundamento responsável pela presença da bondade em todas elas” (Ibidem).

“Na verdade, simplesmente completo é aquele fim que é sempre escolhido segundo si próprio e nunca como meio em vista de qualquer outro. Um fim deste género parece ser, em absoluto, a felicidade. De facto, nós escolhemos sempre a felicidade por causa dela mesma, e nunca em vista de um outro fim para além dela. […] A felicidade parece, por conseguinte, ser uma completude plena e auto-suficiente, sendo o fim último de todas as acções possíveis” I, VII, 1096a -1097b1.

“O sentido fixado por nós concorda com aqueles que dizem que a felicidade é a excelência ou uma certa excelência. O sentido de felicidade é uma certa actividade em exercício de acordo com a excelência. Isto é, não é pequena a diferença entre um bem supremo que existe como mera possibilidade e um bem supremo que está efectivamente em uso”. I, VIII, 1098b9.

“Que é que impedirá, pois dizer, que feliz é aquele que acciona uma actividade de acordo com a excelência completa e está suficientemente equipado com bens exteriores não só durante o tempo ocasional mas durante todo o tempo de vida?”. I, IX, 1101 a1.

Nenhum comentário: