sábado, 18 de agosto de 2007

Elogio da partida


Anda daí, ó profundeza do meu ser.

Que te prende, ó brando e próspero íntimo do meu ser?
Olha a aurora que desabrocha sobre os mortais;
Parte quem parte, chega quem chega.
É só mais uma odisseia, nosso engodo.
Anda daí, façamo-nos ao fado!
O anseio do poeta é contigo desancorar,
Ir para bem longe de tudo e bem perto de nós!
Que te prende, ó brandura do meu ser?

Diz-me tu, ó poeta inconsequente!
Que de mim fizeste uma anima perigrinans.
Porventura não aprendeste com o sábio antigo
As turbulências da exercitatio animi?
Vim das entranhas daquela gens tenebrarum
Afeiçoei-me aos abraços da Velha Torre;
E almejo as carícias das águas do rio Munda…
Não me peças para partir, tudo menos isso!

Deixa-te disso e anda daí, vem comigo.
O topo do Setentrião nos aguarda expectante.
Lembra-te do baile no florir da aurora
Que é o cadenciado peneuma dos imortais
Heróis do Kalevala, por entre as folhas viçosas
Das fabulosas árvores, produzindo a sinfonia
Ao som do qual a azul Cruz latina, desposa
O imaculado tecido branco e dançam o futuro.

Não compreendes, pois não?
Olha para o outro lado da margem.
No Ninfeu tudo é sufocado e sombrio!
As Ninfas animam a rainha Nina, que
Já não vem ao porto abençoar os desancorares,
Nem vagueia pela montanhas, seu domínio, e,
Muito menos lança a sua bênção ao Luar.

Anda daí, não me venhas com conversas mórbidas!
A rainha está habituada às partidas e tu também!
Já te disse, parte quem parte, chega quem chega!
E que tal levares a Rainha e a Velha Torre nos
Mais cálidos dos teus recantos? Que dizes?!
Partimos e ficamos, tal como a Rainha fica e parte.
No deambular dos lagos e na Aurora Boreal vê-la-emos;
Que ela nos enxergará no vagabundear do Munda.

Se podemos contar com o sorriso imortal da minha Rainha
E abraçar a Velha Torre, vou num instante ao Ninfeu
Buscar uma estrela de fogo que nos alumiará nas asperezas
Do caminho que havemos de construir na graça da Via universalis.
Não só vou contigo nesta aventura
Mas também contigo canto o elogio da partida.
Parte quem parte, chega quem chega!
Parte quem parte, chega quem chega!










2 comentários:

Joaninha disse...

Quando a Rainha desaparece, geralmente é para ponderar sobre como resolver os problemas que atingem o Ninfeu... A Velha Torre sorri por ela, meu amigo...
Beijo desta coimbrinha que não esquece o seu amigo Cavaleiro dos Trópicos...

Anônimo disse...

A ponderação e a prudência constituem o backbone do modus operandi da sua Majestade. O Cavaleiro monge recebe a orientação ultramontana e sabe que no Ninfeu há sempre um lugar para ele e para sua montada; para a espada e armadura; enfim para ele e para a sua mundividência. E ele não anseia por outra coisa senão a paz do Ninfeu e uma conversa com a Rainha, lareira nas noites de inverno.

Um abração;