
O que nos espera além do horizonte?
Eis a intrigante questão que está na origem dos mitos mais simples e das cosmogonias sonhadas; das doutrinas mais ou menos elaboradas e de um leque de sistemas escatológicos que depspertam fascínio/curiosidade, intriga, temor e reverência. É certo que, à vista desarmada, parece que a grande questão é "de onde viemos?". Mas não. Esta não existiria se não houvesse a necessidade de responder a uma outra: para onde vamos? Ou seja, é a angústia proveniente da vontade de conhecer, de antemão, o além-horizonte que puxa o género humano à questão das origens.
Nem à simplicidade da idade pueril parece lógico narrar uma estória sem princípio. As origens são, quase sempre, obscuras... embora nunca tenham faltado explicações a seu respeito. No entanto, é o devir a fonte da angústia. É o que está para vir o fomento de erros como o Purgatório de Agostinho e a ilusão do progresso do espírito humano de Condorcet, Hegel e seus seguidores; o embate entre a filosofia da miséria e a miséria da filosofia (Marx vs Proudhon), o optimismo prometeico do cientismo oitocentista; a religião social de Compte e a fé no progresso histórico de Collingwood; a sonhada e idealizada sociedade socialista, a filosofia racista dos finais do século XIX e as suas dramáticas consequências na centúria imediata (cuja a expressão máxima foi o espectáculo de morte que a máquina nazi ofereceu ao mundo) a crença na civilização e as torpezas cometidas em nome deste conceito hipócrita. .. Enfim, sistematiza-se tudo em função de um devir (embora fora do alcance do homem) preparado e idealizado. Posto isto, julgo ser rigoroso definir o devir (sobretudo a necessidade de o compreender) como o grande motor da história. Se é certo que vivemos governados por mortos, também é certo que as nossas preocupações não estão centradas no que ajuizaram sobre o pretérito, mas sim sobre o devir. Assim, o presente (que carece de qualquer extensão) está “grávido” do devir e a interpretação do passado não deve descartar a dialéctica com a concepção do devir.